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  • Foto do escritorObservatório das Desigualdades

Prática Empreendedora

Atualizado: 23 de abr. de 2023


O texto a seguir foi construído a partir da colaboração de Janaynna Ferraz (professora de Administração da UFRN e pesquisadora no Núcleo de Estudos Críticos Trabalho e Marxologia, o NEC-TRAMA). Para ver ou ouvir clique no vídeo acima!

A palavra empreendedorismo tem sido amplamente utilizada em diversas esferas da vida social: no trabalho, na faculdade e mesmo na conversa com amigos e amigas. O que não é mera coincidência, pois o empreendedorismo tem se consolidado como uma ideologia dominante em nosso tempo. Portanto, é importante que saibamos o que significa.

Aqui, entendemos por prática empreendedora um duplo movimento material, que combina empreendedorismo precarizado e inovação capitalista, ao integrar a pauperização da força de trabalho e o progresso tecnológico em torno do ciclo de reprodução do capital nos dias hodiernos.

E o que isso quer dizer? Diferente do que se tem dito acerca do “empreendedor por oportunidade” e “empreendedor por necessidade”, a realidade brasileira é que a situação majoritária dos micro e pequenos negócios é de ausência de inovação, atividades de baixa complexidade e rendimentos abaixo de 2 (dois) salários mínimos mensais, não sendo possível caracterizar essas atividades como potencialmente lucrativas. Podemos afirmar que, no Brasil, a prática empreendedora tem se dado quase que completamente pela necessidade de reprodução da própria existência, com poucas exceções.

Mais de 70% desses micro e pequenos negócios não têm empregados ou empregadas, e, aquelas que têm, geralmente envolvem familiares ou conhecidos, sem direitos trabalhistas assegurados e, devido ao baixo faturamento, pagam muito pouco.

Mesmo nos casos em que esses negócios são um pouco maiores e empregam pessoas – e conseguem, portanto, gerar e extrair mais-valor – esse valor é insuficiente para que o capital se reproduza, isto é, não se acumula em quantidade para que o negócio cresça. Assim, a tendência no médio prazo consiste em elevar a exploração do trabalho, e no longo prazo, fechar as portas.

A outra ponta dessa história é a inovação capitalista, que pode ser representada pelo papel que Startups cumprem atualmente (ou empresas de crescimento rápido e que são 0,5% das empresas no Brasil). Mesmo sendo poucas, essas empresas atuam como um imenso laboratório de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), cuja pesquisa muitas vezes é proveniente das universidades públicas e os custos são socializados pelos próprios “sócios”. Assim, as grandes empresas podem prescindir de seus grandes centros de P&D: elas vão nesse mercado e compram apenas a ideia já desenvolvida e testada. Para quem compra é uma excelente oportunidade, já para os poucos que vendem pode ou não ser uma oportunidade. Mas, para os outros tantos que não conseguirão comercializar suas ideias, a situação é menos interessante.

Dessa forma, podemos perceber como a prática empreendedora vai além da ideologia e tem um papel importante nas condições de vida da classe trabalhadora.


Quer saber mais? Leia:

CARMO, Luana Jéssica Oliveira; ASSIS, Lilian Bambirra de; JÚNIOR, Admardo Bonifácio Gomes; TEIXEIRA, Marcella Barbosa Miranda. O empreendedorismo como uma ideologia neoliberal. FGV EBAPE, Cad. EBAPE.BR, v. 19, n. 1, p. 18-31, 27 abr. 2020. Disponível em: <http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/cadernosebape/article/view/83118/78967.>

FERRAZ, J. M. NÃO SÃO GIGANTES, SÃO MOINHOS DE VENTO: AS DESVENTURAS DOS/AS EMPREENDEDORES/AS EM TERRA BRASILIS. Disponível em: <https://www.researchgate.net/publication/342489439_NAO_SAO_GIGANTES_SAO_MOINHOS_DE_VENTO_AS_DESVENTURAS_DOSAS_EMPREENDEDORESAS_EM_TERRA_BRASILIS>

FERRAZ, J. M. Para além da prática empreendedora no capitalismo brasileiro. São Paulo: Actual, 2021.

PAULO GALO. A luta é por Direitos!. 28 fev. 2021. Instagram: @galodelutaoficial. Disponível em: <https://www.instagram.com/tv/CL2y_kUnxD_/?igshid=1ortl015kbipa>

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