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Movimentos Sociais



Texto construído a partir da colaboração de Roberto Marinho Alves da Silva (professor do Departamento de Serviço Social - DESSO/CCSA/UFRN) Para ver ou ouvir clique no vídeo acima!

Tudo está em movimento, a matéria, a energia, a vida biológica. Tudo na natureza está fervilhando, está em ebulição. Não há nada parado, nada estático. A sociedade também, não. Ela é viva e é feita de mudanças. Essas mudanças são produzidas no seu próprio interior, não é nada que vem de fora, que é determinada. São mudanças relacionadas a conflitos, contradições, consensos e coesões, e que são construídas por pessoas, grupos, classes sociais, organizações e instituições existentes na sociedade. A vida em sociedade é movimento e, por isso, cada sociedade, em um determinado momento, é fruto ou resultado desses processos de transformação, que hoje são cada vez mais frequentes, mais rápido. Por isso nós precisamos compreender o que são os movimentos sociais, essas organizações de ação, de reação coletiva, de sujeitos políticos, e, portanto, de seres históricos. Nós, que conduzimos os processos de transformação da vida em sociedade.

O conceito do qual partimos aqui é o da professora Maria da Glória Gohn, para quem os movimentos sociais são ações sociais coletivas, de caráter sócio-político e cultural, que viabilizam formas distintas da população se organizar e expressar suas demandas. Nesse conceito estão três componentes principais. Primeiro, os movimentos sociais são forças sociais organizadas que aglutinam e associam pessoas em torno de causas, interesses e objetivos comuns. O segundo é que são ações coletivas diretas e indiretas de pressão, de denúncia, de resistência, como processos sequenciais, com certa continuidade, embora não necessariamente os movimentos tenham formalização, ou sejam institucionalizado. O terceiro componente é que a incidência do movimento é, sobretudo, política. Ou seja, ela está no campo das relações de poder na sociedade. Os movimentos sociais buscam influenciar a opinião pública, conquistar a adesão das pessoas e pressionar as instituições, sobretudo o Estado, para o atendimento das suas demandas, ou, então, para transformações sociais mais profundas.

Existe uma diversidade de movimentos, particularmente classificadas aqui em três grandes tipos de movimentos. Primeiro os classistas, a exemplo do movimento sindical; movimentos originados a partir da união, da mobilização e da representação de interesses da classe trabalhadora, ou de uma fração dela. São os movimentos históricos, presentes nas grandes revoluções sociais. Há, ainda, os ditos novos movimentos sociais, a exemplo dos movimentos antirracistas, movimento feminista, movimento negro, movimento indígena, de juventude, LGBT, entre outros. O terceiro tipo são os movimentos temáticos. Eles se organizam em torno de causas coletivas, de direitos comuns ou difusos, como os movimentos ambientalistas, movimentos antiglobalização, antifascistas. Atuam, sobretudo, por meio de redes sociais mais amplas e articulação e mobilização. Importante observar, contudo, que cada vez mais há intersecções entre esses aspectos ou dimensões. Um exemplo é o movimento das mulheres trabalhadoras rurais, negras e quilombolas, que defendem o extrativismo sustentável como forma de emancipação feminina. Elas lutam para reduzir desigualdades sociais, de classe, gênero, etnia, defendendo a biodiversidade e os modos de vida dos povos tradicionais, contra o avanço do capital no campo.

Há, ainda, um outro tipo de classificação, que são as grandes abordagens teóricas ou explicativa dos movimentos sociais. Há três principais. A primeira, e mais antiga, é a abordagem comportamental funcionalista, que analisa os comportamentos coletivos. Segundo ela, os movimentos sociais são manifestações irracionais das massas na cena política. São, portanto, interpretados como distúrbios, bagunça, originados em desvios de comportamento e frustrações de lideranças e, portanto, devem ser controlados. Eles são criminalizados, combatidos pelo Estado. É o entendimento da questão social como caso de polícia.

Uma segunda abordagem é exatamente contrária à primeira. É a abordagem histórica e estrutural, que tem base na teoria social crítica de Marx, e se desenvolve a partir do marxismo. Ela enfoca, para a explicação, os processos de mudança e de transformação social, ancorando-se no conceito de luta de classes. Portanto os movimentos sociais são classistas, ou seja, são expressões das lutas de classes na sociedade, dado os distintos interesses. Essa abordagem relaciona os movimentos como sujeitos históricos da transformação das relações sociais.

Em terceiro, há uma abordagem mais atual, que valoriza a dimensão cultural. Ela vem sendo desenvolvida para explicar sobretudo os novos movimentos sociais, enfatizando os processos de construção de identidade, em que os diferentes tipos e formas de pertencimento são fundamentais: o território, a etnia, religião, a geração, o gênero, a opção sexual. Dessa forma, toma-se a dimensão cultural como eixo analítico, para compreender como as subjetividades estão articuladas com as identidades coletivas.

Por fim, vale salientar que nem todos os movimentos são progressistas, ou seja, nem todos buscam e lutam para realizar transformações na sociedade, em torno de ampliação de direitos e redução de desigualdades. Existe os movimentos reacionários, conservadores, autoritários, fascistas e de direita, que no Brasil estão se proliferando. Eles atuam para combater os movimentos que atuam para a transformação social e, portanto, são contra a redução das desigualdades.


Quer saber mais? Leia:

GOHN, Maria da Glória Marcondes. Teoria dos movimentos sociais: paradigmas clássicos e contemporâneos. 9. ed. São Paulo: Loyola, 2011.

VERCELLI, Ligia de Carvalho Aboes. GOHN, María da Gloria Marcondes. (2008): Novas teorías dos movimentos sociais, São Paulo: Edições Loyola, p. 166. Rev.hist.educ.latinoam., Tunja , n. 15, p. 341-344, Dec. 2010 . Available from <http://www.scielo.org.co/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0122-72382010000200015&lng=en&nrm=iso>. access on 05 Oct. 2020.

SCHERER-WARREN, Ilse. Redes de Movimentos Sociais. São Paulo: Loyola, 1993.





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