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Lesbofobia

Atualizado: 23 de abr. de 2023


O texto a seguir foi construído a partir da colaboração de Kyara Maria de Almeida Vieira (Professora de História da UFERSA). Para ver ou ouvir clique no vídeo acima!

A lesbofobia é uma palavra que deriva da junção das expressões lesbos e fobia. A expressão lesbos está associada a uma ilha grega, de mesmo nome, onde viveu uma poetisa, aproximadamente entre os séculos 6 e 7 Antes de Cristo, chamada Safo. Essa poetisa construiu escola só para mulheres, bem como desenvolveu uma obra em que ela declamava o amor entre e pelas mulheres.


A palavra fobia significa a rejeição e o medo exacerbado em relação a de- terminadas situações. Entre os vários tipos de fobia está aquela que se desenvolve em relação algumas pessoas e aos modos de ser. Este tipo de fobia está relacionado a religiosidades, etnias, raças e, também, sexualidades. Portanto, a lesbofobia é o medo ou rejeição (de forma objetiva ou subjetiva) que as mulheres vivenciam por ter amor, afeto ou desejo sexual por outras mulheres.

É importante destacar que, porque se afirma em nossa sociedade que só existe um tipo de relação amorosa ou de desejo, muitas pessoas são assassinadas. As mulheres lésbicas são consideradas mulheres que não respondem a esse modelo que é culturalmente ensinado, de uma única forma de amar. No entanto, é importante relembrar que desde o começo da humanidade existem mulheres que vivenciam seu amor, seu desejo e seu afeto em relações íntimas com outras mulheres.

Há muitas expressões para definir as mulheres lésbicas. No nosso cotidiano, elas são chamadas, muitas vezes, de sapatão, de caminhoneiros, fanchonas, bolachas, entendidas… A maioria das vezes, ou quase sempre, são expressões associadas com algo maléfico ou discriminatório. Isso reproduz a ideia de que mulheres lésbicas são aquelas que fracassaram nas suas relações afetivas com outros homens; mulheres que querem ser iguais aos homens, e até mesmo tomar o lugar deles. Essas são leituras simplistas e preconceituosas, que não dão conta das mais variadas formas que as mulheres conseguem se amar, se relacionar e construir as suas vidas.

Por conta desta crença que só há um tipo de relação possível, um único jeito de ser, muitas mulheres são assassinadas por serem lésbicas. O Brasil é um dos países que têm os piores índices em relação ao assassinato de mulheres lésbicas. Dentre os dados mais recentes, destaca-se o Dossiê sobre o Lesbocídio no Brasil, pesquisa feita entre os anos 2014 e 2017.

No Dossiê, é possível identificar dados por região, classe, escolaridade, etnia, profissão, etc. Um dos dados alarmantes que ele traz é que 34% das mulheres lésbicas que são assassinadas só por serem lésbicas têm entre 20 e 24 anos. Um outro dado alarmante é que 83% dos assassinos das mulheres lésbicas nunca nem as viram na vida, ou mal ou as conheciam.

Nesse sentido, é importante pensar que os crimes contra as mulheres lésbicas têm requintes de crueldade, que não estão presentes em outros assassinatos. Envolvem desde o estupro corretivo (em que homens estupram uma mulher lésbica, porque acredita que ela vai deixar de ser lésbica), até atos como decepar os seios de mulheres lésbicas. Em alguns lugares, retira-se o clitóris para que essas mulheres não tenham prazer. Há, ainda, situações em que se inserem objetos cortantes, ou objetos causadores de dor no ânus e na vagina dessas mulheres, no sentido de puni-las, além de matá-las.

Há, ainda, que se fazer uma outra observação. A lesbofobia atinge todas as mulheres que são lésbicas, mas, como nós vivemos em um país que é classista e racista, as mulheres lésbicas que são negras, pobres e periféricas sofrem ainda mais opressão, porque elas carregam esses marcadores. Esses marcadores culturalmente inferiorizam as mulheres e, como diz Ochy Curiel, que é feminista, negra e lésbica, como as lésbicas não dependem dos homens materialmente ou emocionalmente, elas desafiam a norma que tenta estabelecer um jeito único de ser no mundo.

Portanto, ser lésbica não é apenas uma identidade. É, ao mesmo tempo, uma orientação sexual e uma posição política, que também pode ser considerado um posicionamento ético, e, acima de tudo, uma forma de assumir a sua vida. Toda forma de amor vale a pena e é importante respeitar as pessoas nas suas individualidades, reconhecendo suas preferências sexuais.


Quer saber mais? Leia:

BRANDAO, Ana Maria. Da sodomita à lésbica: o género nas representações do ho- mo-erotismo feminino. Anál. Social, Lisboa , n. 195, p. 307-327, 2010 . Disponível em: http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0003-25732010000200004&lng=pt&nrm=iso

DINIZ, Rozeane Porto. As representações léxico-semânticas das lesbianidades no cordel. 2013. 141 f. Dissertação (Mestrado) – Curso de Mestrado em Literatura e In- terculturalidade, Literatura e Estudos Interculturais, Universidade Estadual da Paraí- ba, Campina Grande, 2013.

MENDES, Wallace Góes; SILVA, Cosme Marcelo Furtado Passos da. Homicídios da População de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais ou Transgêneros (LGBT) no Brasil: uma análise espacial. Ciência & Saúde Coletiva, [S.L.], v. 25, n. 5,p. 1709-1722, maio 2020. FapUNIFESP (SciELO). Disponível em: http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232020255.33672019

NAVARRO-SWAIN, Tânia. O que é lebianismo? São Paulo: Brasiliense, 2000. 313p. (Coleção Primeiros Passos).

SOUZA, Simone Brandão. LÉSBICAS, ENTENDIDAS, MULHERES VIADOS, LADIES: as várias identidades sexuais e de gênero que reiteram e subvertem a hetero- norma em uma unidade prisional feminina da bahia. 2019. 309 f. Tese (Doutorado) Curso de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade, Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Milton Santos, Universidade Federal da Bahia, Bahia, 2019.

TOLEDO, Lívia Gonsalves; TEIXEIRA FILHO, Fernando Silva. Apontamentos so- bre a construção sócio-histórica de estigmas e estereótipos em relação ao homoerotismo entre mulheres. Revista de Psicologia da Unesp, São Paulo, v. 10, n. 1, p. 39-61, 2011

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