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Desigualdade de classe

Atualizado: 23 de abr. de 2023

O texto a seguir foi construído a partir da colaboração de Marília Duarte de Souza (doutoranda em Administração da UFMG e pesquisadora da rede Trama).Para ver ou ouvir clique no vídeo abaixo!

Para falar de desigualdade de classe a primeira coisa a discutir é que não é a renda, a fonte, a faixa, ou o consumo que define a classe. De acordo com o exposto por Marx, na sociedade capitalista uma classe define-se por seu papel no ciclo de produção e reprodução do capital, cujo elemento determinante é possuir ou não os meios de produção.

Há duas grandes classes determinantes, a classe trabalhadora e a classe capitalista, é preciso compreender que essas classes se constituem em um movimento pautado em um processo de exploração de uma classe pela outra, um processo no qual uma classe se produz e reproduz por meio da exploração de outra classe e isso gera condições concretas de vida distintas e desiguais aos indivíduos componentes dessas classes.

A classe capitalista é aquela detentora dos meios de produção. Ela tem a propriedade privada dos meios que são necessários para se produzir os valores de uso necessários para suprir necessidades humanas. A classe trabalhadora são aqueles indivíduos que não possuem os meios para se produzir, uma vez que eles estão sob propriedade privada de outra classe, possuem apenas a sua capacidade de trabalho/força de trabalho. Por não possuírem os meios que são necessários para colocar essa força em ação, precisam vendê-la, ou seja, trocá-la por um salário, para assim ter acesso aos meios produzidos.

Assim, é importante salientar que a detenção privada destes meios de produção pela classe capitalista não é um processo natural e não é resultado de mero acaso, mas, um processo longo e violento de expropriação, abordado por Marx no livro um de “O Capital”.

A classe trabalhadora por não possuir os meios para se produzir, mesmo sendo ela quem tudo produz, precisa então vender sua força de trabalho e recebe em troca um salário. No entanto, o que ela recebe em troca é apenas um mínimo necessário para se reproduzir enquanto trabalhadora e trabalhador, embora ela produza muito mais. Esse excedente é apropriado pela classe capitalista, assim, o acesso à riqueza produzida é determinado, a depender dessa classe, e a classe que tudo produz tem um acesso limitado por essa classe que possui a propriedade privada dos meios de produção.

O desenvolvimento das potencialidades humanas na sociedade capitalista também é limitado por sua posição de classe. Dessa forma a reprodução da classe trabalhadora nessa sociedade se coloca apenas para reprodução de sua força de trabalho e não de todas as suas potencialidades, o acesso à riqueza produzida, ao conhecimento. Tudo é limitado a depender desta posição de classe.

É necessário compreender que tal limitação se coloca para as duas classes, uma vez que desse processo de expropriação resulta que os próprios indivíduos se encontram alienados de sua humanidade. Uma sociedade na qual produzimos alimento para que seja possível a população inteira se alimentar, mas que, segundo a Oxfam, ocorrem 11 mortes por fome no mundo por minuto. Esta limitação se coloca de forma mais intensa para a classe trabalhadora, uma vez que a possibilidade colocada para essa classe é de vender sua força de trabalho ou de morrer de fome.

É importante pensar que a classe trabalhadora é diversa, heterogênea, o que nos faz discutir pelo menos dois aspectos. Primeiro, dentro da classe trabalhadora há condições materiais de vida distintas que manifestam condições e intensidades de explorações também distintas. Isso depende tanto da divisão técnica e mundial em que determinada trabalhadora ou trabalhador se insere, e, também, das condições diversas e distintas que são produzidas pelo próprio engendramento com relações de opressão. É o caso, por exemplo, das condições das mulheres, pessoas negras e LGBTS, em relação às quais são distintas e muitas vezes a exploração se coloca de forma mais intensa. Tais condições concretas distintas podem se manifestar em relação a outras desigualdades.

É importante entender alguns aspectos para se compreender o movimento que engendra a relação de classes. Como traz Ferraz (2021), existem pelo menos quatro questões a serem analisadas ao se falar das questões de classe. Primeiro a estruturação econômica, a posição diante da propriedade, e o modo de distribuição das condições materiais de produção. O segundo aspecto são aqueles conflitos que se desenvolvem nos campos políticos, de acordo com os próprios interesses distintos e contingentes desses indivíduos, a depender de sua posição de classe. O terceiro aspecto é a consciência que se associa ou distância dessa posição. Pertencer ou não a uma classe não significa a consciência de pertencimento dessa classe, e as questões materiais distintas como colocamos aqui se colocam também para essa própria consciência. O quarto aspecto é a apropriação de classe nas lutas concretas e no interior de uma formulação social.

Enfim, o que precisamos compreender é que a desigualdade de classe manifesta uma relação estabelecida por um movimento de exploração, o qual é produzido e produz o sistema de vida no capitalismo, é uma relação complexa que é permeada e permeia diversas outras relações de desigualdades.

(espaço)

Quer saber mais? Leia:

Ferraz, J. D. M. (2021). Para além da prática empreendedora no capitalismo brasileiro. Grupo Almedina.

Marx, K., & Engels, F. (2015). A ideologia alemã: crítica da mais recente filosofia alemã em seus representantes Feuerbach, B. Bauer e Stirner, e do socialismo alemão em seus diferentes profetas. Boitempo editorial.

Marx, K. O capital: Crítica da economia política. Livro I: O processo de produção do capital. Trad. de Rubens Enderle. São Paulo: Boitempo, 2013.Marx, K. O capital: Crítica da economia política. Livro III: O processo global de produção capitalista Trad. de Rubens Enderle. São Paulo: Boitempo, 2017.

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