O texto a seguir foi construído a partir da colaboração de Alseni Maria da Silva (Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) com habilitação em Supervisão e Orientação Educacional (2012) e Especialista em Educação Especial e Inclusiva – Universidade do Oeste Paulista – UNOESTE).
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O conceito de capacitismo se refere ao grupo das pessoas com deficiência, que ao longo da história vem tendo suas capacidades subjugadas, o que envolve exclusão, preconceito e discriminação vivenciado por essas pessoas. Isso se dá, geralmente, por meio de atitudes veladas e, por isso mesmo, imperceptíveis.
Segundo Andrade (2015), capacitismo se configura como uma lógica que lê a pessoa com deficiência como não igual, incapaz e inapta tanto para o trabalho, o que inclui até mesmo cuidar da própria vida e tomar as próprias decisões, enquanto um sujeito autônomo e independente. Nesse sentido, o capacitismo se traduz em toda e qualquer forma de preconceito e discriminação que põe em xeque a capacidade da pessoa, em razão de sua deficiência.
Segundo Fiona Kumari Campbell o capacitismo está para o segmento da pessoa com deficiência assim como o racismo está para as pessoas negras ou o machismo para as mulheres: vincula-se com a fabricação de poder. O capacitismo se manifesta nas esferas sociais, públicas e privadas, negando a estes sujeitos possibilidades de participação em políticas de saúde, acessibilidade, educação, cultura e lazer. Tudo isto se deve ao fato de que, historicamente, disseminou-se um ideal de corpo funcional tido como “normal” para a raça humana, conceito ao qual Mello (2014) denomina corponormatividade. Portanto, quem não se enquadra nesses padrões é considerado menos humano.
Adriana Dias, uma das precursoras no estudo sobre capacitismo no Brasil, problematiza a organização do discurso capacitista a partir da formulação eugênica do século XIX.
Nas correntes teóricas que sustentam a contemporânea discussão acerca do capacitismo, três elementos estruturantes da construção social do capacitismo são considerados: (a) a compreensão da deficiência e a história da eugenia; (b) o papel do conceito de normalidade e suas implicações na conceituação da deficiência e (c) a ofensiva mais recente do neoliberalismo e seus resultados nas populações marginalizadas, incluindo as pessoas com deficiência.
As atitudes capacitistas são diversas. Um exemplo são aquelas que partem da concepção da deficiência como condição que limita o ser humano em sua totalidade, razão pela qual, qualquer conquista, ou atitude emancipatória adotada por pessoas é considerada como um ato de superação. Isso envolve uma “heroicização” das pessoas com deficiência que, quando comparadas com as demais, são colocadas em posições superiores, já que seu desempenho se sobrepõe.
Uma situação diversa, mas que também decorre do capacitismo é a infantilização das pessoas com deficiência, utilizando abusivamente expressões no diminutivo, a exemplo de: rostinho, bonitinho, dentre outras. Também nesse sentido é recorrente a interlocução ocorra tão somente com pessoas acompanhantes daquelas com deficiências, sendo desnecessário cumprimentá-las, afinal, “elas sequer percebem nossa presença”.
Finalmente, é recorrente a rotulação de pessoas com deficiência como especiais, colocando em xeque sua capacidade de estudar, trabalhar, tomar decisões ou realizar com êxito as atividades cotidianas, das mais simples às mais complexas.
Quer saber mais? Leia:
ARAUJO, Edgilson Tavares de. Parcerias Estado e organizações especializadas: discursos e práticas em nome da integração/inclusão educacional das pessoas com deficiência. 2006. Disponível em: <https://tede2.pucsp.br/bitstream/handle/17806/1/SSO%20%20Edgilson%20Tavares%20de%20Araujo.pdf>
DRADE, S. Capacitismo: o que é, onde vive, como se reproduz? As gordas. 2015. Disponível em <https://asgordas.wordpress.com/2015/12/03/capacitismo-o-que-e-onde- vive-como-se-reproduz/>
Entre Cuidados. Edgilson Tavares. Spotify. Disponível em: <https://open.spotify.com/show/7l7rZnytrElQCPY44z4fvH>
MELLO, A. G. de. Deficiência, incapacidade e vulnerabilidade: do capacitismo ou a preeminência capacitista e biomédica do Comitê de Ética em Pesquisa da UFSC. Núcleo de Identidades de Gênero e Subjetividades, Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2016.
MELLO, A. G. de. Gênero, deficiência, cuidado e capacitismo: uma análise antropológica de experiências, narrativas e observações sobre violências contra mulheres com deficiência. 2014. Dissertação (Mestre em Antropologia Social) – Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.
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